Cardeal Parolin: a paz não é imposta, o diálogo é essencial
- 18/04/2025
Em entrevista ao jornal italiano “La Repubblica”, o Cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin fala sobre os conflitos em curso na Ucrânia e em Gaza
Da redação, com Vatican News

O Cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin / Foto: ZUMA Press Wire via Reuters
A Santa Sé está muito preocupada “com o risco de uma escalada do conflito” na Ucrânia, o que causaria “maiores sofrimentos e novas vítimas”, embora reconheça que “seria desumano tirar dos ucranianos o direito de se defenderem”.
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Esta é a posição expressa pelo cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin, na entrevista ao jornal «La Repubblica» onde falou sobre as principais questões internacionais. “Como o Papa Francisco tem recordado repetidamente, a paz não se impõe, é construída pacientemente, dia após dia, com o diálogo e o respeito mútuo”, sublinha Parolin, manifestando apreço por toda iniciativa que possa levar à paz, porque “esta guerra não pode continuar”.
Sair da espiral de conflito permanente
O problema subjacente, segundo o purpurado, “é uma visão cada vez mais individualista do homem e uma crescente desconfiança recíproca entre os membros da comunidade internacional. Ninguém mais confia em ninguém. Esse clima gera medo, rearmamento, agressão preventiva e uma espiral de conflito permanente. É precisamente neste contexto que a missão da Santa Sé é também a de acender algumas pequenas luzes e de relançar as palavras dos Sucessores de Pedro, que há mais de um século repetem o seu não à guerra e à corrida armamentista, como o Papa Francisco continua a fazer.
Ao enfatizar o “ponto de partida”, ou seja, que a Santa Sé “apoia claramente a soberania e a integridade territorial da Ucrânia”, Parolin observa que “cabe aos próprios ucranianos decidir o que eles querem negociar ou possivelmente conceder deste ponto de vista”. Uma paz justa e duradoura, segundo o cardeal, só será possível se for fundada “no respeito à justiça e ao direito internacional”.
Os EUA de Trump e o multilateralismo
O secretário de Estado, que receberá o vice-presidente dos EUA, J. D. Vance, em visita a Roma neste sábado, 19 de abril, responde depois a uma pergunta em relação às políticas de Trump e o multilateralismo.
“Está claro que a abordagem da atual administração dos EUA é muito diferente daquela a que estamos habituados”, reconhece Parolin, acrescentando que “a Santa Sé sempre se esforça para colocar a pessoa humana no centro e há muitas pessoas vulneráveis que sofrem enormemente, por exemplo, por causa dos cortes na ajuda humanitária.”
“A Santa Sé defende constantemente uma abordagem multilateral e considera que o direito internacional e o consenso dos Estados devem ser sempre favorecidos”, clama o purpurado. Um papel na defesa do multilateralismo que deveria ser desempenhado, antes de tudo, pela Europa.
“Nesta perspectiva – afirma – aparece infeliz a expressão rearmamento, que é sempre prenúncio de fechamentos e de novos conflitos, para justificar a exigência da Europa de investir na sua própria defesa, também à luz de um desengajamento dos EUA neste sentido”.
O secretário de Estado descarta que, devido às inúmeras guerras, estejamos diante do “ano zero no diálogo das religiões”: não devemos cair – ressalta – na “armadilha de que estamos diante de confrontos de natureza religiosa”, porque “na verdade, trata-se de manipulação da religião e dos valores espirituais para fins muito mais terrenos”.
A importância do diálogo
Sobre a devastação em Gaza, Parolin fala de dados e imagens “humanamente horríveis e moralmente inaceitáveis”. “A autodefesa é lícita, mas nunca pode implicar a aniquilação total ou parcial de outro povo ou a negação de seu direito de viver em sua própria terra”.
Respondendo a uma pergunta sobre as relações com a China, o cardeal confirmou que “a Santa Sé certamente mantém o desejo de ter seu próprio escritório de ligação em Pequim”, um passo que permanece, no momento, “dentro do âmbito do desejável”.
Por fim, o secretário de Estado fez um apelo à importância do diálogo: “Creio que a maior contribuição que a Santa Sé pode dar no atual panorama internacional é precisamente a do diálogo: testemunhar a sua importância e praticá-lo em primeira pessoa, mesmo quando é difícil, mesmo quando pode ser uma escolha impopular, mesmo quando pode parecer inútil e improdutivo”.
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